quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A cor púrpura

Uns anos atrás (uns 3 anos) estava conversando com meu pai e dizendo sobre alguns filmes que tinha assistido e a temática que eu gostava, ele então disse que como eu gostava de filme triste, devia então assistir "a cor púrpura". Passado um tempo acabei vendo o filme pela metade na televisão, mas não foi um filme que me prendeu, talvez por já estar pela metade. Há pouco tempo vi o livro na livraria e comprei. 
Apesar de possuir uma temática densa é difícil, a leitura é rápida, por se tratar de cartas, que a personagem vai enviando, inicialmente à Deus, por um motivo bem específico. 

O livro começa: " É melhor você nunca contar pra ninguém, só pra Deus. Isso mataria sua mamãe"
Então ela escreve sua primeira carta, onde relata o estupro que viveu pelo padrasto.

A personagem acaba mantendo um espírito infantil durante todo livro, isso por um motivo óbvio, ela nunca pôde ser criança, nunca pôde se conhecer. Vivendo sempre situações de abuso, nunca havia conhecido outra vida, tendo apenas Deus como seu confidente. 

O diário de Celie (personagem principal) contém erros gramaticais, devido sua falta de estudo. Fazendo consequentemente com que se sinta ignorante e incapaz. 


"Mas eu num sei como brigar. Tudo o queu sei fazer é cuntinuar viva". Pág 31

" Ah, Celie. A incredulidade é uma coisa terrível. Como também é o mal que fazemos aos outros sem saber". Pág 218




sábado, 30 de julho de 2016

Carta ao pai

"Carta ao pai" é um livro escrito por Franz Kafka, extremamente curto, mas igualmente denso. Como o título diz, trata-se de uma carta que Kafka entregaria a seu pai. A carta não foi entregue, mas o fato de te-la escrito parece ter surtido um efeito positivo. 
O livro é extremamente angustiante, foi o primeiro livro lido que me tirou além de suspiros, lágrimas. 
Foi extremamente interessante ver como o escritor acabou retratando sua experiência com seu pai em outros de seus livros como : O processo, A metamorfose e O castelo, (o último eu não li, mas foi citado no livro) então acho que posso dizer que de fato, olhando a relação que Kafka teve com seu pai, sua escrita (nos livros que li) foi praticamente toda como forma de elaborar sua relação com seu pai. É claro que seus livros têm uma forte questão filosófica, social etc. Mas após ler Carta ao pai, minha visão em relação aos outros livros mudou.
Kafka foi criado por um pai extremamente autoritário, consequentemente Kafka foi criando sua barreiras e interpretando o mundo a seu modo. O livro trata desta visão de mundo criada pelo protagonista (como não temos a fala do pai, só podemos dizer que trata-se de uma interpretação unilateral, mas extremamente completa, afinal, não precisa-se de um outro indivíduo para confirmar nada em uma narrativa, o que o sujeito diz é a verdade que ele carrega para si e só ele terá as consequências desta verdade).
O autor diz como se sente em relação a suas escolhas; seus complexos em relação ao pai; como foi sua criação; a maneira com gostaria de fugir de todas as amarras que o prendem ao pai; como este pai autoritário acaba influenciando também a vida de suas irmãs.
Divirta-se (ou não)

terça-feira, 19 de julho de 2016

Fim/fins

Um corpo inerte, corpo em si. Corpo que se perde, a morte passou. Em vida, ela nos atormenta diariamente, quando a conquistamos, enfim, não é mais um problema ou questão. Corpo estático, pra onde se joga ele fica. Sem subjetiva, sem desejo, à espera de decomposição. O fim chegou, o resto, é a continuação para os que ficaram. Olhando a morte de perto, sentindo o bafo úmido da morte, os que ficam apenas se assustam com a fragilidade da vida, e vão viver um amanhã esperando sua própria decomposição. 

terça-feira, 17 de maio de 2016

Os miseráveis 300-450

Sabe a música "Geni" do Chico? Basicamente assim termina esta parte da leitura de Os miseráveis. Jean Valjean, ex prisioneiro das galés, foi descoberto enquanto Madeleine. Madeleine, nesta parte da história consegue enriquecer-se com uma grande descoberta: fabricando vidraças de uma forma mais barata, com isto, movimentou a economia da cidade, todos estavam trabalhando e muitos até enriqueceram. Da riqueza que poderia ter, quase nada sobrou. Ele dava a maior parte da sua riqueza aos pobres, ajudava o máximo de pessoas que podia. Madeleine acaba por ajudar pessoas vizinhas e tira muitos da miséria, por consequências, muitos conseguem alcançar a classe média. Mas nem tudo são flores, o passado voltou para Jean Valjean. Um ex inspetor das galés (Javert) reaparece em sua vida, desconfia que Madeleine seja Jean, mas sem provas.
Um pobre homem, ignorante, sem um mínimo de conhecimento acabar por ser preso  e sendo reconhecido como Jean Valjean, e eis que surge o grande conflito moral. Jean sem saber o que fazer, acaba com assumir sua identidade e será preso.
Voltando ao início do post, toda a cidade se volta contra Jean, um ex criminoso que cometeu seus pecados.
Afinal, quem são estes que o julgam? Onde está a moral, o certo e errado? Onde estará o crime, e o criminoso? O que afinal é justiça, e a quem ela serve?

Trecho: 

" A prisão do Sr Madeleine produziu em Montreuil-sur-Mer uma sensação, ou para melhor dizer uma comoção extraordinária. É triste não podermos dissimular que, a estas simples palavras: É um forçado, todos o abandonaram. Em menos de duas horas, todo o bem que havia feito foi esquecido; ele não era nada mais que um forçado. É justo que digamos que ainda não sabiam o que havia acontecido em Arras. Durante todo o dia, ouviram-se pela cidade comn táticos mais ou menos como este:
-Não sabe? Era um grilheta! "


A Nausea

"A Náusea", escrito por Sartre, romance escrito em 1938

Este romance aponta certas ideias que Sartre colocaria em seu livro " O ser e o nada", ao mesmo tempo aponta ideias que Sartre descartaria. 

A Nausea é um romance seco, cheio de crítica tanto a nível social, como a nível de Ser. Nele, Sartre vai criticar essa insistência do pequeno burguês em tampar sua existência com gestos e aparências do cotidiano. Exemplo este descrito em uma cena de um domingo qualquer. Sartre vai dizer dos casais apaixonados, dos sorrisos, do domingo quente, cheio de energia, no fim, uma cena inútil, falsa, não representando nada mais que fingimento, disfarce da "realidade". Uma crítica em relação à burguesia.

O personagem principal realiza diálogos bem consistentes com o que ele diz ser o Autoditada, este representando um humanista (personificação de um pensamento contrário ao de Sartre), ser que acredita na potência humana, crendo haver algo de bom o ser humano. O Autoditada está sempre em busca do conhecimento, sempre com fome de saber...Além de um humanista, talvez também um burguês em sua teatralidade...

Roquentin, o personagem principal é um homem de 30 anos, vivido, que parece estar na cidade para trabalhar. Ele é historiador e desiste de trabalhar na biografia do marquês de Rollebon, por acreditar não haver liberdade em se escrever algo sobre uma outra pessoa. Pessoa esta que possui uma vida sem muito entusiasmo, uma vez que o marquês é a personificação de algo que Sartre vai criticar, como ele já crítica a burguesia. O marquês, assim como a burguesia são personagens, buscam segurança e agem na teatralidade, sem nenhuma liberdade. 

Sem querer dar spoiler, mas talvez já dando um pouco, eu me surpreendi com o final do livro, pois Sartre abre uma possibilidade para A nausea, essa possibilidade parece ser a arte, pois o personagem se preenche quando ouve seu disco de jazz favorito, mas é claro, Sartre vai abandonar esta ideia de possibilidade para a existência. 

Uma das mil frases que marquei e gostei:


"É o reflexo de meu rosto. Muitas vezes, nestes dias perdidos, fico a contemplá-lo. Não entendo nada desse rosto. Os dos outros tem um sentido. O meu não. Sequer consigo decidir se é bonito ou feio. Acho que é feio, porque me disseram. Mas isso não me impressiona. No fundo, até me choca que se possam atribuir a ele qualidades desse gênero, como se chamassem de bonito ou feio um pedaço de terra ou um bloco de rocha."












segunda-feira, 4 de abril de 2016

Os miseráveis 150-300

Tem uma galera, nessa internet da vida, fazendo vídeos, comentando, e postando fotos com a hastag "os miseráveis" e eu me lembrei vagamente do filme que assisti há um tempo, e lembrava que era uma história fantástica (mesmo me confundindo com a história de " O conde de Monte Cristo" 😒
Enfim, resolvi ler o livro, e a história, a escrita, tudo tem sido fascinante. Como o pessoal marcou pra ler 150 páginas por semana, eu achei interessante e resolvi fazer o mesmo. Vou tentar cada semana escrever o que achei da leitura ( mesmo em muitos casos, como a ultima postagem, minha escrita não contendo nenhum nexo)
Minha impressões da pág 150-300:

Como já havia dito, o livro parte muito para questões sociais; a construção e relaçao do indivíduo com o social.
A história da Fantine me marcou muito, mostrando as maldades do ser humano, o desejo de muitos em destruir a vida de uma pessoa. Muitas vidas são destruídas por mero capricho egoico, enfim, por maldade.
Fantine inicialmente bela, crente no amor, esperançosa e com o tempo, torna-se amarga, ignorante, rancorosa, atacando a tudo e a todos com a melhor arma que acha possível, arma esta sempre desnecessária, não passando de uma perda de energia, já que sua alma (o que havia de mais valiosos) já havia sido corrompida, e Fantine afundava em um profundo descontrole. Essa é Fantine, e pode ser qualquer um de nós. 
Afinal, quem fabricou Fantine? Quem são os fabricantes de nós? 

No fim das contas, após toda destruição interna, e externa (Fantine já havia vendido seus dois lindos dentes e seu cabelo para enviar dinheiro para sua filha). Fantine desiste de lutar e "decide" se prostituir. 

" Christus nos Liberavit

  A que se reduz toda essa historia de Fantine? É a sociedade comprando uma escrava. 
Para quem? Para a miséria. 
Para a fome, o frio, a solidão, o abandono, a nudez. Doloroso comércio! Uma alma por um pedaço de pão. A miséria oferece, a sociedade aceita.”  Pág. 279



quarta-feira, 23 de março de 2016

Os miseráveis - 150

A onda e a sombra

"Homem ao mar! Que importa! O navio não para. O vento sopra e ele tem uma rota que é forçoso seguir. E segue avante. O homem desaparece, reaparece, mergulha e vem à tona, grita, estende os braços, mas ninguém o escuta; o navio, sob a violência do furacão, está atento às suas manobras, e os marinheiros e passageiros pouco se importam com o náufrago; sua pobre cabeça não é mais que um ponto no meio das vagas enormes. 


Das profundezas onde se encontra, solta gritos lancinantes. Que espectro essa vela que se afasta! Olha-a com frenesi. Mas ela se afasta ainda, some, desaparece. Há pouco, fazia parte de sua equipagem, indo e vindo com os outros pelas pontes; também ele tinha sua porção de sol e de lar; era um ser vivo. Agora, que aconteceu? Escorregou, caiu e acabou-se. Ei-lo perdido na imensidão das águas. Sob seus pés, tudo lhe foge e se desloca. Vagalhões rasgados e revoltos pelo vento rodopiam assustadores; o balanço do abismo o arrasta, os farrapos de ondas se agitam sobre a sua cabeça, a multidão das vagas se arrebenta; cada vez que mergulha, entrevê precipícios cheios de noite; estranha vegetação o prende e o retém, agarrando-lhe os pés; sente-se transformar em abismo, fazer parte da espuma; as ondas o jogam de uma a outra e, sorvendo amarguras, o covarde oceano se empenha em afogá-lo; a imensidão se diverte com a sua agonia. Parece-lhe que toda a água se transformou em ódio. Por isso, luta. 



Tenta defender-se, suster-se; esforçar-se, e consegue nadar. Ele, pobre força quase a desfalecer, combate o invencível. Onde está o navio? Lá ao longe. Apenas visível na pálida escuridão do horizonte. Sopram novas rajadas; assaltam-no as espumas. Ele ergue os olhos e só encontra nuvens lívidas. Agonizante, assiste à imensa loucura do mar que o tortura. Ouve ruídos desconhecidos ao homem, parecendo vir do outro lado da terra e de não sei que região tenebrosa. Há pássaros nas nuvens, do mesmo modo que há anjos pairando por sobre as desventuras humanas; mas, que podem eles fazer para ajudá-lo? O pássaro voa, canta, plana, e ele agoniza. Sente-se sepultado ao mesmo tempo por esses dois infinitos, o oceano e o céu; um é a tumba, o outro, a mortalha. 

Cai a noite; há horas que está nadando, quase exausto; o navio, aquela mancha longínqua onde viviam homens, foi esfacelado pela tormenta; está só, portanto, no formidável báratro crepuscular; afunda, resiste, estorce-se, sente rolarem sob ele as monstruosas vagas do invisível; grita por socorro. Não existem mais homens. Onde está Deus? Grita ainda: — Alguém! Alguém! — Grita continuamente. E nada no horizonte, nada no céu. Clama pelo espaço, pela onda, pela alga, pelos recifes, mas tudo se faz surdo. Implora à tempestade, e a tempestade imperturbável não obedece senão ao infinito. Rodeiam-no a escuridão, a névoa, a solidão, o tumulto catastrófico e inconsciente, o redemoinho infinito das águas enfurecidas. Em seu íntimo, horror e cansaço. 

A seus pés, o vazio. Nenhum ponto de apoio. Pensa, então, na obscura migração de um cadáver vagando na sombra sem limites. O frio intenso o paralisa. As mãos crispadas fecham-se agarrando o nada. Ventos, nuvens, turbilhões, rajadas, estrelas inúteis! Que fazer? Desesperado, abandona-se, deixa-se morrer, deixa-se ir e, presa exausta, rola para sempre nos lúgubres abismos que o devoram. Ó marcha implacável das sociedades humanas! Perda de homens e almas ao meio do caminho! Oceano onde some tudo o que a lei deixa cair! Sinistra inexistência de auxílios! Ó morte moral! O mar é a inexorável noite social onde as sentenças lançam seus condenados. O mar é a miséria incomensurável. A alma, à mercê da voragem, pode transformar-se em cadáver. Quem a ressuscitará?" Trecho retirado da página: http://www.blogdomartinelli.com.br/2012/05/onda-e-sombra.html

Esta foi uma história contada na página 150 do primeiro livro de "Os miseráveis" peguei esta história por achar que ela resume bem tudo o que foi dito nas páginas anteriores. Eu poderia pegar o prefácio, que acredito ser um resumo de toda a obra, mas esta história nos faz refletir e questionar muito, e nas 150 páginas, é o que tenho feito. 

O navio somos nós. Os dias passam pessoas pedem socorro e nós seguimos; precisamos manter nosso objetivo, e seguir. Fabricamos diariamente seres inanimados, marionetes moldadas pelo sistema, e que também moldam o sistema. Até a página 150, do livro "Os miseráveis" de Victor Hugo, assuntos como desigualdade, convívio em sociedade, consequências macro e micro da vida social, religião, moral, são os assuntos mais tocados e questionados, de uma maneira magistral. Evocando pontos extremamentes delicados, de uma maneira sábia, que nos prende e nos faz refletir, Victor Hugo nos apresenta um livro extremamente intenso. Talvez por compactuar com os pensamentos de Victor Hugo, estou achando a leitura muito proveitosa, reflexiva é interessante.