A primeira parte do livro relata os pensamentos de um homem com seus 40 anos, e a segunda parte, o homem retorna aos seus 24 anos. Duas narrativas cruéis, que de certa forma retrata a "degradação" humana. O que afinal seria a degradação? Um ser que pensa, e no fim não se enquadra em nada, ou aquele que sempre será aceito em todos os lugares, conseguindo como troféu a falta de consciência para o fato de que no fim, não há lugar para se pertencer? Em suma, dois seres atormentados.
Na segunda parte do livro, em plena juventude do narrador, é possível perceber uma certa esperança, uma vontade de agradar ao outro, necessidade de ser bem visto. Fato este, quase inexistente na primeira parte
Na segunda parte do livro, em plena juventude do narrador, é possível perceber uma certa esperança, uma vontade de agradar ao outro, necessidade de ser bem visto. Fato este, quase inexistente na primeira parte
O livro deve ser lido calmamente uma vez que Dostóievski acaba por descrever teorias por entrelinhas. Vestígios de psicanálise, filosofia existencial, são facilmente encontrados neste livro, o difícil se faz no processo de decodficação teórica. Confesso que não tive sensação física como em "Crime e castigo" mas, em certos momentos senti na boca um gosto amargo. As obras se complementam.
O final do livro é simplesmente fantástico, muito intenso, momento em que o narrador falar sobre passado e futuro, fazendo uma amarração entre vida, literatura, amor e consciência de si. Momento extremamente reflexivo. Li duas vezes pra tentar absorver o máximo possível do que estava escrito. Me afundei em angústia.
O final do livro é simplesmente fantástico, muito intenso, momento em que o narrador falar sobre passado e futuro, fazendo uma amarração entre vida, literatura, amor e consciência de si. Momento extremamente reflexivo. Li duas vezes pra tentar absorver o máximo possível do que estava escrito. Me afundei em angústia.
Junto com Memórias do subsolo comprei "A náusea" -Sartre-. Consigo ver nitidamente um diálogo entre os dois livros. Caso haja possibilidade, trarei este diálogo.
Como sempre, tenho a sensação de que não disse nem sequer o mínimo sobre o livro, mas, na certeza de que nunca teria a sensação de ter dito o mínimo, eu deixo como está.
"Oh, se eu não fizesse nada unicamente por preguiça! Meu Deus, como eu me respeitaria então! Respeitar-me-ia justamente porque teria a capacidade de possuir em mim ao menos a preguiça; haveria, pelo menos, uma propriedade como que positiva, e da qual eu estaria certo. Pergunta: quem é? Resposta: um preguiçoso. Seria muito agradável ouvir isto a meu respeito. Significaria que fui definido positivamente; haveria o que dizer de mim. "Preguiçoso!" realmente é um título e uma nomeação, é uma carreira. Não brinqueis, é assim mesmo. Seria então, de direito, membro do primeiro dos clubes, e ocupar-me-ia apenas em me respeitar incessantemente." Pag 31. Ed. 34
Finalizando:
“... não será melhor encerrar aqui as ‘Memórias’? Parece-me que cometi um erro começando a escrevê-las. Pelo menos, senti vergonha todo o tempo em que escrevi esta novela: é que isto não é mais literatura, mas um castigo correcional. (...) um romance precisa de herói e, no caso, foram acumulados intencionalmente todos os traços de um anti-herói, e... tudo isto dará uma impressão extremamente desagradável, porque todos nós estávamos desacostumados da vida. (...) Sei que talvez ficareis zangados comigo por causa disto, e gritareis, batendo os pés: ‘Fale de si mesmo e das suas misérias no subsolo, mas não se atreva a dizer ‘todos nós’. Mas com licença, meus senhores, eu não estou me justificando com este todos. E, no que se refere a mim, apenas levei até o extremo, em minha vida, aquilo que não ousastes levar até a metade sequer, e ainda tomastes a vossa covardia por sensatez... (...) Para nós é pesado, até, ser gente, gente com corpo e sangue autênticos, próprios; temos vergonha disso, consideramos tal fato um opróbrio e procuramos ser uns homens gerais que nunca existiram. (...) Mas chega; não quero mais escrever ‘do Subsolo’ ” (Dostoiévski, 1864, p.145 a 147).
Trecho retirado: http://www.celpcyro.org.br/joomla/index.php?option=com_content&view=article&Itemid=0&id=839
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