Uma jovem é ameaçada de morte, e ninguém se mobiliza. Mulheres exploradas, espancadas só querem aprender a ler e escrever. Nunca quiseram conhecer o centro da cidade, só querem aprender a ler a escrever. Pessoas que não tiveram a oportunidade de pensar na vida, sempre foram levados por ela. Pessoas que não compreendem a lógica do sistema, só querem fazer. Precisam, de simplesmente ter o nome limpo. Pagar as contas, ser correto em suas atitudes, enfim, querem viver em paz. Mas não entendem que há uma lógica que suga seus esforços, e que de certa forma a fazem pessoas "desgastadas".
Eu gosto muito da área social. De certa forma, eu tentei evitar trabalhar nessa área, por medo. Medo de me angustiar e sofrer. Observando toda a lógica de pessoas que vivem à margem da sociedade, percebemos uma teia de dilemas que imperam enquanto mecanismos fixos para a lógica do sistema. Quando se está na prática, a coisa fica mais forte. Você observa pessoas sofrendo porque ninguém quer ajudar. Cara, isso é fudido. Você vê uma pessoa que foi tão sugada, está tão desgastada, que não consegue sequer conversar direito. Sua postura corporal sempre cabisbaixo, encolhida. Parece ter medo de mais um abuso. Ah, e os abusos são recorrentes. Eles surgem em cadeia, e é difícil romper com essa lógica, que no fim das contas, favorece um nó na garganta. Favorece o abuso, e consequentemente, o nó na garganta, para que o sujeito não fale, não se comunique, e no fim das contas, nem sequer compreenda o que acontece a sua volta.
Eu fico tão angustiada escrevendo essas coisas, que nem consigo me organizar bem. Não há possibilidade de não me afetar, eu simplesmente não consigo, e isso não é bom.
Ter um mínimo de conhecimento nas mãos, não é fácil. Caso não haja uma separação entre pessoal e profissional, você acaba tão corrompido, quanto aquele que se aliena diante o sistema. Você acaba sendo sugado, nadando contra a corrente, e corre o risco de acabar cabisbaixo diante esse sistema grandioso. Este, sedento por um abraço, tal qual uma jiboia.
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