segunda-feira, 20 de abril de 2015

Inferno

Pois Dante fez nosso inferno. Materializado em nossa mentes, este inferno impiedoso provavelmente nunca deixará de existir. Nós, ontologicamente pecadores, travamos lutas diárias afim de apresentar provas contrárias de nossos pecados. Outras pessoas são invejosas, ou avarentas, menos eu. Eu, pobre coitado, sofro com os pecados alheios. Pessoas me invejam e me cobiçam. Em alguns casos, por estes pecados eu "não vou pra frente", e há sempre uma resposta do tipo: há muito olho grande em cima de mim. 
Nestes tempos de semi deuses, (tempo este que sempre existiu, pois não se trata de um tempo cronológico, mas sim, algo do SER) fico em dúvida como cada um ajeitaria seu lugar no inferno de Dante. Em qual camada cada um de nós, se firmaria? Eu, provavelmente escorregaria desde a mais leve camada (a primeira de cima), até por fim estar de frente com o tinhoso, que pra lá de amargurado deixa suas asas batendo, formando um mar de gelo. 
O pecado do outro, é o meu pecado. Algo no outro me afeta a tal ponto, que eu o culpo, rogo-lhe uma praga, mas não admito minha incompetência. Não admito minha falha. Prefiro admitir que pecaram sobre mim, e cometeram a inveja. Frases como: "Nossa, não consegui o emprego por causa de inveja" são comuns, e mostram puramente a minha insatisfação comigo mesmo. Eu não admito minha incompetência, e prefiro culpar o outro.
Somos seres tão errantes, que me perco constantemente na "lógica" do pecado. 

"Anote isto: nós, seres humanos, somos os animais que se alimentam do que não existe. Se nos alimentamos Dos inexistentes chamados anjos, então nos tornamos seres alados. Voamos leves e sorrimos. Mas, dos inexistentes chamados demônios, ficamos pesados e afundamos. Ora, se esses seres que não existem, imaginários, nos fazem voar ou afundar, é porque existem. Sabemos que existem por aquilo que fazem conosco." 
Sobre anjos e demônios- Rubem Alves 

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