Acho que Claudia se parecia com a mulher que abracei ontem. Ela, com muita vergonha disse gaguejando: obrigada por tudo. Quando percebi aquele afeto retribui o abraço calorosamente, disse algumas palavras e as lágrimas rolaram sem que eu pudesse sentir.
Ela se parece com a Cláudia. Foi arrastada durante toda a vida, e ainda é. No seu gaguejar percebi seu esforço em demonstrar um afeto e também, muitos medos.
Depois de tanto chicote no lombo, um abraço, um agradecimento e um sorriso valem muito. Ao menos significou muito pra mim. Nunca direi: fiz um ótimo trabalho. Afinal, algo falta. Nada é completo, mas não sei lidar com isso. Jamais direi: lavo minhas mãos. Ah! Isso nunca. Quando se percebe tanta carência, tanto sofrimento, é impossível lavar as mãos e estar completo.
Tantas Cláudias ainda serão arrastadas. Tantas Cláudias, cansadas de serem arrastadas, ainda se arrastarão em um automatismo social?
Ah! Algumas mulheres me fascinam. Não escondo de ninguém minha admiração por essas criaturas, que, por algum motivo foram desenhadas num realismo que une, o olhar, a pele, os sentimentos e as atitudes. Talvez o pintor seja o contexto familiar, social, ou talvez um simples auto retrato.
Nesta montagem que ocorre em fases, quase que um fordismo, ocorrem erros, dor, apontamentos, críticas, chicotes, ameaças, e no fim desta montagem, o que aparece é algo aparentemente infinito, mas que no fim das contas é algo fechado. Na realidade, o que acontece no fim da montagem são abusos recorrentes, cabeça baixa, olhar triste e caído, e as vezes uma melancolia, um reclamar incessante, um não saber o que se quer..E agora eu pergunto: ao admirar seu objeto de amor quase socrático, você se depara com algo incompleto, podado forçosamente, esfaqueado em seu interior por uma engrenagem que estrangula por minuto. Há possibilidade de não se emocionar ao receber um afeto? Há espaço para a apatia?
Música do dia
João Bosco- Corsário - http://m.youtube.com/watch?v=HobpxlC_cWY
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