Marcio tinha cabelo liso. Tinha um rosto magro, assim como seu corpo esquelético. Márcio usava calça em cima da blusa. Márcio andava de maneira engraçada. Desajeitada.
Durante as aulas, Márcio chorava. Durante o recreio, Márcio chorava. Na aula de educação física, Márcio não participava. Eles riam, e Márcio chorava. Eles comentavam e Márcio chorava. Eles apontavam e Márcio chorava.
Eu lanchava no segundo andar, onde não havia ninguém. Eu observava todos brincarem. Eu não era de chorar, mas era triste. Eu não falava, eu chorava. Chorava quando riam. Chorava quando apontavam. Chorava quando comentavam.
Não era bom ver o Márcio chorar. Era triste. Dava mal-estar no estômago. Mas todos riam.
Todos riam. A diretora, os colegas, os pais, a professora, a coordenadora, a faxineira, a cantineira.
Era um sadismo coletivo. Havia um outro na merda. E na merda quem estava era o Márcio.
Mas, onde está Márcio agora? Onde estava Márcio durante o recreio?
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